Friday, May 24, 2013

Por que é importante comprar arte de galerias?


Existe uma ideia entre os artistas mais inconformados de que os compradores de arte devem comprar diretamente dos artistas e devem evitar as galerias. Alguns investidores mais agressivos, e amadores, também defendem esta prática. Por que estão equivocados?

Estes artistas mais rebeldes acreditam que as galerias são os vilões do mercado, porque retirariam do artista grande parte do valor da obra sob a forma de comissões. A verdade é que as galerias não retiram valor e sim ajudam a atribuir valor e trabalham para a valorização permanente da obra. O que existe é uma parceria entre artistas e galerias, onde os primeiros delegam aos segundos uma série de serviços. Sobre isto vou explicar mais abaixo. Quanto aos investidores amadores, eles acham que uma obra comprada no atelier é mais barata do que na galeria. Isto é um equívoco porque o preço de venda ao público deve ser sempre o mesmo, independente de ser na galeria ou no atelier. Os artistas que vendem obras em seus ateliers a preços mais baratos do que na galeria terão suas obras desvalorizadas pelo mercado, porque seus preços são instáveis e variam conforme a ocasião. Se o cliente "A" compra uma obra por 2 mil na galeria, e outro cliente "B" compra uma obra igual por apenas 1 mil no atelier, na prática o artista está lesando o cliente A, e está lesando a galeria, que trabalhou para assegurar uma cotação. O vilão nesta história é o artista, que não é santo.

Como as galerias valorizam os artistas? De várias maneiras: as galerias são como os empresários dos artistas, fazem representação, conferem um bom contexto, fazem catalogação das obras, sistematizam o clipping, as publicações e os currículos dos artistas, gerando assim argumento de venda para os investidores. Além disso as galerias fazem exposição e conservação de obras, armazenagem e divulgação junto a críticos de arte e curadores. Não é novidade que os curadores tem uma relação carnal com as galerias, eles preferem visitar uma galeria com 20 artistas que sabem compartilhar em equipe, do que visitar 20 ateliers de artistas isolados e que não sabem gerar sinergias com terceiros. Alguns artistas são muito apegados ao suposto valor de suas obras e não gostam de pagar comissões. O fato é que uma boa galeria costuma ter diversos custos e funcionários para dar conta da rotina (divulgação, catalogação, gestão física do acervo, atendimento, produção de exposições, transportes, assessoria de imprensa, gestão de mídias sociais, gestão de pessoal, editoração gráfica, logística internacional, contabilidade, textos, aluguel de espaço, feiras, contas de luz e telefone, isto sem falar em vendas propriamente ditas) então é natural que cobrem uma comissão para promover os nomes dos artistas.

Mas os artistas não podem fazer isto tudo que as galerias fazem? Sim, mas não fazem, e não tem tempo para fazer. Em tese um artista deve fazer arte, e nem tanto lidar com aspectos comerciais tão extensos, eles tem pouco pendor para serviços administrativos e comerciais. A galeria oferece uma sistematização de serviços que facilitam as vidas dos artistas, dos compradores e dos curadores.

E se um artista contratar assistentes e fizer tudo o que uma galeria faz, só que para ele mesmo? Existem artistas que são proprietários de galerias, e isto é ótimo porque representam outros artistas também e possuem muita paixão pelo negócio. O que também acontece é alguns artistas terem lojas exclusivas que levam o seu nome, como por exemplo Homero Brito, Roberto Camasmie e o americano Thomas Kinkade. Sem entrar no mérito da qualidade do trabalho, que pode ser até bom, estes artistas acabam ficando marginalizados, justamente por serem excessivamente independentes, não conseguem estabelecer vínculos com os diversos atores do sistema de arte, não representam mais ninguém além deles próprios. É evidente que mais formadores de opinião frequentam as galerias que representam 20 artistas, do que as lojas que representam um único. Não pretendo questionar o êxito comercial das lojas de artista, que são até excelentes, mas questiono a capacidade de diálogo destes artistas com o sistema de arte que é formado por uma plêiade de figuras influentes que não são atendidas por este tipo de atuação.

É claro que existem bons artistas sem galeria e que merecem uma boa representação, e não estou aqui dizendo que nunca se deve comprar em atelier. O que também não se pode defender é que evitem as galerias, senão podemos também propor que ninguém visite museus, ja que artistas de museu estariam mancomunados com o mainstream da arte. E nesta lógica marginal poderíamos dizer que evitem os críticos de arte já que eles seriam a voz oficial da linguagem da arte, e evitem os curadores ja que eles seriam os guardiões do sistema "corrompido". Agora, como consultor de arte posso dizer uma coisa... convém evitar investir em artistas que se recusam a dialogar com o sistema de arte, porque eles dificilmente serão valorizados pelas coleções, sejam elas públicas ou privadas. A regra é clara: é dando que se recebe.

Ricardo Ramalho

Monday, May 20, 2013

Que outras coisas ja fiz?

Continuação de postagem anterior: o Portal de links 2020

Só por curiosidade, que outras coisas eu ja fiz?

Algumas dessas atividades tenho ainda muito apreço e poderão ser retomadas

- Professor de Hotelaria
- Chefe de sushi bar, pizzaiolo e churrasqueiro
- Curador e assistente curatorial
- Galerista
- Logística de arte
- Operador de atividade marítimo turística
- Sonoplasta e monitor de planetário
- Aderecista e cenógrafo
- Operador de pousada
- Operador de supermercado gourmet
- Gerente de restaurantes
- Fotógrafo e videomaker de casamentos
- Outras :) 


Voltar aos serviços atualmente relevantes: Portal de links

Thursday, May 2, 2013

Do PÓ à BOLHA: dois erros comuns sobre preços de arte

Se você conhece o seu preço, você vale alguma coisa. Se seu preço é nebuloso, sua cotação pode despencar, sem volta. No meio artístico existe muita confusão com preços.

Os dois erros mais comuns e desastrosos são:

1) Artista cobra o que dá na telha, conforme a ocasião.
2) Marchand inflaciona o trabalho dos artistas. Com atualizações de uma hora para outra, sem estratégia nenhuma, mesmo galerias importantes não facilitam preços ao público, nem informam sua própria equipe, tudo é avaliado na hora, como se o valor fosse "sentido" pelo bruxo, dono da galeria. (Neste caso quem cobra o que dá na telha é o marchand).

Erro 1: O preço nebuloso do artista desapegado. 
Convém que o artista tenha um Preço de Venda ao Público (PVP). E não fale em "meu preço de artista", e não tenha um segundo "preço na galeria". O preço deve ser um só, ou seja o preço de galeria, esta é a cotação pública do artista. A galeria recebe sua merecida comissão. Se o artista vende por fora da galeria, ele deve vender pelo mesmo preço da galeria. A comissão por vendas fora da galeria é acordada entre as partes, algumas galerias que trabalham com exclusividade e geram bastante resultado podem pedir comissão sobre qualquer tipo de venda. Noutro caso o artista vende bem por fora, e não aceita pagar a galeria por vendas feitas em seu estúdio. Cada caso é um caso. É melhor pagar comissão e ser rico, do que não pagar e ser pobre. Uma obra não pode ser valiosa num lugar e barata noutro. Repito: o preço do artista é um só, com ou sem comissão. É importante para o artista estabelecer parcerias com galerias distribuidoras, definindo o preço final e acordando comissões. Monitorando sua valorização real.

Erro 2: A galeria especuladora.
Existe uma bolha no mercado de arte, com três responsáveis: os marchands que vendem, colecionadores que compram, e os artistas que não administram suas carreiras. Certas galerias acreditam que dinheiro não é problema, então um trabalho pode ser valorizado sem problemas, e se o artista vende duas ou três obras depois de uma exposição importante, pronto, acham que podem encarecer mais!! Em estandes de feiras ja vi preços de obras subirem no mesmo dia, no começo da tarde o preço é um, no fim do dia ja ficou mais caro. O problema é que aumentar os preços sempre esfria o mercado. É preciso que o artista atinja uma popularidade mercadológica para que o boca-boca funcione bem, e que muitos colecionadores comprem, a ponto de solidificar uma cotação e uma relevância. O que acontece hoje é que muitos artistas jovens tem seus preços inflacionados cedo, sem que sua penetração no mercado esteja consolidada, situação muito delicada, porque não se pode diminuir depois o preço de um artista. O frenesi pelo artista é esfriado por preços caros, e novos artistas emergentes que tem preços mais baixos roubam atenção, até serem queimados também por mais especulação.

Em resumo: não brinque com seus preços, seja sério, transparente e conservador nesta matéria. Não seja um predador deslumbrado, seja um negociante sustentável.

Abraço, Ricardo Ramalho.