Wednesday, August 19, 2015

Como se tornar um artista rico

A primeira pergunta que vem à mente do leitor é "o Ricardo é um artista rico?"
Como consultor e professor de arte não posso me apequenar nem quero que se apequenem ao meu redor. Não é porque não sou rico que vou sonegar as informações que levam as pessoas à riqueza. Os artistas são muito competitivos, ninguém vai te passar essas informações. Prevendo a insistência do questionamento avançarei com mais algumas explicações: por que não sou rico? Digamos que meu percurso até o momento foi duchampiano, algo desapegado e deslocado do mercado. É reconfortante pensar assim. Por outro lado na zona de conforto profissional não devemos ficar muito tempo, como veremos a seguir. Acredito que serei bem sucedido financeiramente. Outra razão para eu não ser um artista endinheirado deve-se ao fato de que tenho muitos interesses e atuações, como por exemplo a curadoria, o mercado de arte, a vela náutica, videos, blogs, plataformas online, não sou um artista que "só faz arte" (um dos pontos deste artigo). Por outro lado estou afunilando e convergindo meus interesses. Minha ambição é horizontal. Bem, não estou aqui para falar de mim, vamos em frente porque o arrojo é uma condição prévia da prosperidade (outro ponto a ser tratado).

1) Faça arte para os outros, não para você mesmo. 
Arte não é hobby, é uma linguagem com um vocabulário ja consagrado e com um circuito bem definido. Não queira inventar uma nova linguagem, não fique falando sozinho, é importante chover no molhado, atue dentro do circuito e para as pessoas do circuito. Existem circuitos mais alternativos e outros mais consagrados, ambos podem ser rentáveis desde que você se projete a eles e para seus públicos. Evite o excesso de autonomia, porque no futuro poderá ficar isolado. Faça parte.

2) Desenvolva um currículo obsessivo de exposições. 
Não fique entocado, saia, procure espaços para expor, editais, regulamentos de salões, redija projetos, cace o que fazer e locais interessantes para expor. Não é proibido expor em restaurantes, mas cuidado para não sobrecarregar o currículo somente com espaços alternativos. Procure curadores e críticos para ir além de você mesmo.

3) Produza muito, seja um trator.
Você tem duas opções, ou se tranca no atelier solitariamente todo santo dia (algo chato e menos produtivo) ou contrata um assistente, para criar uma dinâmica, todo santo dia, que vai triplicar sua produção. Certos trabalhos não podem ser feitos sozinhos, e nestes casos o resultado sozinho é zero. Bem acompanhado é ilimitado.

4) Seja simpático. 
O trator é só na produção, não nos modos. Seja carismático, líder, mobilizador, educado, atencioso, amigo do pessoal, como um excelente executivo. Seja uma referência para sua equipe. Evite demonstrar carência afetiva, insegurança, ansiedade. Fique relax, sem ficar apático e sem euforias. Seja firme, flexível e atencioso.

5) Administre bem a produção, a catalogação, a equipe e os compromissos.
Isto é trabalho de escritório, mais uma vez, busca a excelência de um executivo, registre bem suas obras com fotos e listas com fichas técnicas. Tenha as informações bem sistematizadas, arquive tudo muito bem, folders, artigos de jornais, catálogos. Seu crescimento depende do crescimento dos seus parceiros. Se organiza. Suas fundações devem ser sólidas para suportar sua grandeza.

6) Saiba negociar, não seja durinho e defensivo. 
Argumente, dialogue, ouça, queira fazer negócio. A cotação de um artista tem a ver com sua capacidade de legitimar seus preços com uma orquestra de parceiros e amigos. Aprenda a trabalhar com múltiplas galerias e parceiros comerciais. Não delire nos preços e não queira vender tudo sozinho se não tiver capacidade para ser o Romero Britto.

7) Seja arrojado.
Não faça arte sem graça e fraquinha. Coloque algum peso no trabalho, vigor, brilho, escala. Busque aliar a simplicidade e a sofisticação. Leveza também pode ter estofo. Invista na sua produção. Não precisa ser rico para investir na sua arte (até porque tem artista que é rico e poderia brilhar mais). Invista tempo, seja ambicioso, pense a longo prazo, pense na sua aposentadoria.

8) Faça só arte. 
Seja claramente um artista, não seja outras coisas, não seja arquiteto, ou designer, não seja montador, nem curador, nem crítico, nem consultor, pedreiro ou psicólogo. Você até pode ter muitos clientes em outros ramos de atividades, danem-se todos, você só precisa de dois clientes: compradores e curadores.

9) Seja famoso localmente.
Não caia na fantasia de prospectar o mercado internacional se ninguém te conhece na sua cidade. O Brasil é um continente, existe muito mercado aqui mesmo, cavar oportunidades no estrangeiro é só para quem ja arrasou o quarteirão local. Lá fora você é um estrangeiro. Não adianta expor num vilarejo francês e achar que está bombando. Fazer residências é muito gostoso, mas com moderação. Toda viagem vai te afastar do mercado doméstico.

10) Arte não é uma atividade agradável.
Se você acha gostoso é porque está fazendo pouco. Pergunte a um piloto de Airbus se é gostoso passar 8 horas na cabine. Pergunte a um cirurgião se é gostoso passar o dia no centro cirúrgico. Pergunte a um palhaço profissional se é gostoso se apresentar para uma plateia de duzentas pessoas e depois ser preso pela polícia. Fale com um professor de pré-adolecentes da rede pública ou particular para ver se é gostoso. Arte é trabalho braçal, intelectual e administrativo. Exige muito da pessoa, é trabalho autônomo. "Crie o seu mundo" (Nelson Leirner). É exposição pessoal constante. Gostar do que faz não alivia o peso do expediente. Ter disciplina é fazer as coisas mesmo sem vontade. Faça valer muito a pena.

Sucesso!!
Ricardo Ramalho
19-08-2015

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