Monday, December 4, 2017

Modelo Romero Britto de fazer negócio e porque o criticam tanto

Pintura de Romero Britto
Vamos falar sobre o fantástico modelo de negócio do ícone Romero Britto, mas antes algo menos interessante: porque o criticam tanto? A  principal razão é seu envolvimento no seletivo circuito de arte (nulo) e a razão secundária é seu estilo pessoal. 

Romero Britto não precisa de galerias, nem de curadores, nem de museus, nem de críticos, e muito menos dos colecionadores de "arte contemporânea", e menos ainda das panelas de artistas bajuladores deste mesmo circuito. Ou seja, não sobra ninguém que o defenda no "mainstream" da arte. Exceto eu. Se ele não precisa de ninguém deste meio é natural que o meio não precise dele. O artista dificilmente participará da Bienal de São Paulo, ou da Bienal de Veneza, provavelmente não será incorporado ao acervo do Museu de Arte Moderna. Seu currículo tem obviamente muitas exposições em galerias e museus, mas em geral museus e galerias de segunda categoria (desculpe, não quero desmerecer o CV do artista e 90% das instituições que formam o circuito expandido, é uma categoria fundamental para fazer chegar a arte a mais pessoas). Sua posição no circuito especial não é relevante para ele, ja que possui um circuito próprio. Niki de Saint Phalle fez exposição na Pinacoteca de São Paulo, Romero Britto talvez tenha dificuldade. (A gestão atual do MASP pode se interessar). As obras coloridas de Niki e Romero, temos de reconhecer, têm bastante afinidade, no uso de cores chapadas, temas festivos e composições alegóricas. Por que Niki pode, e Romero não?
Escultura de Niki de Saint Phalle
Porque a artista francesa tem um longo currículo de interlocução com o circuito de arte, obras provocativas, conceituais, que vão desde o cinema até a arquitetura, passando por pintura, desenho, escultura e arte pública. Sua obras mais alegres, aparentemente inocentes, surgem em meio uma carreira muito rica de composições inquietantes em muitos meios e muitas instituições. Ja Romero Britto, sem querer diminuir o artista mais uma vez, tem como pilar de sua produção as pinturas decorativas conservadoras (linha de ação aliás usada pela maioria dos pintores de arte contemporânea).


A razão secundária pela qual o criticam tanto é seu perfil milionário e brega. Os católicos nutrem desconfiança de artistas milionários, se for brega então a coisa fica difícil de engolir. Aqueles paletós estilo Elton John, o cabelo pixaim sem corte, o corpinho roliço, sua proximidade com celebridades e sua zero representatividade no circuito de elite fazem dele uma figura não muito preferida pelo jogo de tráfico de influências e vaidades da arte. O fato de estar radicado nos Estados Unidos complica mais ainda sua aceitação no meio provinciano paulistano. Ele sofre preconceito, não há dúvida, é carta fora do baralho. Uma carta dourada. 

Neste percurso Romero Brito não atingirá uma cotação de Bia Milhazes, não haverá especulação de coleções de museus, textos e galerias em torno dele, nem precisa, ele já é muito próspero.

Agora vamos ao modelo de negócio. Tente fazer igual e fique rico.

1) Pinte quadros bonitos: algo incomun na arte contemporânea. Apresente pinturas com temas populares, de forte sedução visual e com estilo marcante.
2) Não perca tempo tentando construir um currículo para-inglês-ver. Tentar emplacar no circuito oficial é canseira. Puxa-saquismo não paga as contas. Evite a tricotagem dos artistas carentes. Faça exposições em espaços alternativos e chiques.
Minie Mouse versão Britto
3) Construa uma rede paralela de relacionamentos. Não é fácil isto hein?
4) Cobre um preço atraente pelos trabalhos, o importante é vender quantidade. Seu preço não vai evoluir muito, nem precisa.
5) Faça doações de suas obras a celebridades para ir emplacando nas mansões.
6) Quando começar a prosperar crie sua própria rede de lojas no mundo todo. 
7) Seja agressivo nos negócios, licencie seus desenhos para todo tipo de produto, venda posters sem dó, faça produtos, brinquedos, cadernos. Você vai concorrer com a própria Disney, mas depois vai fazer negócios com eles.
8) Contribua para instituições de caridade.

Como pode ver não é fácil fazer o que Britto faz. Caso queira explorar um artista de perfil parecido procure na internet Thomas Kinkade, uma autêntica fábrica de arte, com muitos colecionadores aficionados.

Em nosso meio pega bem falar mal de Romero Britto. Basta descer a lenha no artista e fazer pose de entendido que o pessoal curte. Espero que compreendam melhor seu perfil de atuação e inventem outros temas para malhar. Critica-lo é fácil porque ele está fora. Quero ver criticarem os cartolas do circuito contemporâneo: o rabo preso não deixa. Ser independente tem suas vantagens.

Um forte abraço e faça melhor!!! Sucesso!!! Ricardo Ramalho




2 comments:

  1. kkkkkkkkkk muito bom! mas eu continuo detestando o RB, seu puxa-saquismo, seus "convites" para colunistas apreciarem suas exposições e ainda mais aqueles corações pintados na cara de qualquer um que lhe importe, de dilma rouseff a joão doria. mas é inegável que o rabo preso com a elite que consome arte contemporânea ele não tem. agora mesmo, artistas estão calados frente à prisão do dono do inhotim, que obviamente sempre teve cara de lavagem de dinheiro, mas... por que vou falar mal se ele compra meus trabalhos de arte? Suponho que RB quisesse ser uma espécie de Warhol, mas o americano era e é a encarnação da pop art em seus extremos na crítica e na bajulação do mainstream, já o brasileiro não passa de um naif que ganhou o mundo se associando com poderosos.

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  2. Obrigado Ivi!! O mundo da arte contemporânea é cheio de contradições, fazemos a "arte crítica" e vendemos para clientes de BMW, curadores visitam galerias mas não visitam ateliers, acadêmicos vendem textos "científicos" para artistas e galerias (como denuncia Herkenhoff) pelo menos o Britto está a margem destas contradições.

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