Wednesday, May 28, 2014

Arte é o que eu faço

Muita gente se pergunta "O que é arte? Isto é arte??" A resposta é simples: arte é o que eu faço.

Arte é um bem cultural feito por um artista. Se não foi feito por um artista, não é arte, é outra coisa, pode ser artesanato, ilustração, literatura, design, culinária... arte não é.
RR, série X, 70 x 70 cm, 2002
Os artistas tem o monopólio da arte. Assim como os engenheiros tem o monopólio da engenharia, os médicos da medicina e os jornalistas monopolizam o jornalismo. O mundo da arte não é diferente, é um ambiente restritivo e fechado. Não será eu quem vai mudar este meio. Uma pintura pode ser muito bonita, mas se for feita por um amador o interesse do sistema será nulo. É preciso que a obra, que pode até ser medonha, seja feita por um "artista de carteirinha", como recomenda Nelson Leirner. O que define um objeto como arte é a pessoa que o fez. Duchamp esclareceu que o ambiente define a arte, só que se o autor não for artista ele não adentra neste espaço.

Digamos que um psicólogo resolva pintar quadros. Aquilo será arte... na casa dele. Fora de casa ele vai ter de percorrer e camelar pelo circuito para ser considerado. Então para os mais calejados, a pintura espontânea de um psicólogo será ignorada, por que ele não seria merecedor de credibilidade, pinta por hobby. Curadores e colecionadores não perdem tempo.

Mas a arte não é tudo de belo que nos rodeia? Tudo o que é bem feito não é uma forma de arte? Sim, num plano filosófico de discussão, tudo pode ser arte. No plano raso somente arte é arte. E no geral o meio da arte é bastante raso, impera o pragmatismo fisiológico, sem dó. De certa forma isto é necessário, porque da arte se tira muito proveito, é sempre saqueada, sem que os artistas dedicados sejam devidamente recompensados. Existem muitos ruídos e mal feitos em torno deste mercado, é preciso clarificar as coisas, valorizar o trabalho daqueles que colaboram para manter ateliers, museus, galerias, espaços alternativos e coleções.

Se tudo é arte, para que arte? Por isso que via de regra, somente arte é arte. Se você percorre o circuito, colabora e reconhece o valor da arte, então para você tudo pode ser arte. Se você não gosta dos vícios do sistema, se você não concorda e é rebelde, então arte não é para o seu bico. "Onde estaria o papel libertador da arte?" Depende, pode estar na sua casa se você comprar um quadro.

Ricardo Ramalho
(artigo escrito originalmente para meu blog de artista, em 18/5/2014 e transferido para cá, porque evita-se que sites de portifólio tenham textos poéticos ou de opinião do próprio artista).

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