Nenhum destes argumentos são válidos para justificar um preço. Maturidade é o mínimo que se espera de um trabalho para despertar interesse. Currículo não garante cotação, Nelson Leirner é um exemplo disto, o arrojo de um artista pode gerar interesse curatorial, mas não repercutir da mesma forma no mercado. Anos de janela é até engraçado, o artista pensa que por trabalhar há 30 anos merece ser valorizado... se ele carrega os mesmos vícios e limitações a vida inteira certamente não colherá os frutos que pretende. Obra trabalhosa é outro equívoco comum, como se uma obra simples pudesse ser mais barata, e a trabalhosa mais cara, sendo que a apreciação de uma peça reside na sua genialidade e não na sua complexidade.
O que justifica um preço são as vendas e a demanda. Se uma obra vende muito, se todos querem ter uma em casa, se ele vende tudo o que faz, então ele vai gradualmente subindo seu preço, ao longo de muitos anos. Com cuidado, porque uma subida prematura pode interromper um ciclo virtuoso de vendas e distribuição.
Há quem diga que uma pintura cara vende mais, porque indicaria que a obra é relevante. Eu não compro este argumento... a menos que o artista ja seja muito consagrado pelo mercado, e seus preços estejam bem fundamentados. Forçar um valor pode ser desastroso, pega mal depois diminuir, os colecionadores querem valorização e não desvalorização.
Os artistas não devem se apegar aos seus trabalhos, devem facilitar a venda, esvaziar seus ateliers, e produzir sempre novas obras. É triste acumular trabalhos encalhados no atelier, ao invés de faturarem 20 mil vendendo 10 pinturas, preferem micar com uma produção achando que vale 10 mil cada, e acabam por não vender nenhuma... e ainda se revoltam com o sistema de arte. Vivemos numa economia de mercado, não existe valorização porque o artista é gente fina. O artista que quiser prosperar, e fazer seus colecionadores felizes com a valorização, precisa ter seus preços bem fundamentados ao longo do tempo.
Ricardo Ramalho
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