Tuesday, May 26, 2015

O artista problemático


O xarope
Quantos artistas problemáticos você conhece? Não são tão frequentes como se pode imaginar, os artistas carregam o rótulo do gênio louco injustamente, são poucos o que se enquadram mesmo nesta categoria. Entre a genialidade e a loucura, no meio de tantos artistas interessantes e agradáveis sempre tem uns 5% de artistas problemáticos. Como são eles? Instáveis, injuriados, inseguros, arrogantes, defensivos, indecisos, ou simplesmente chatos. Alguns tem distúrbios psicológicos reais. O mundo não costuma premiar quem não consegue dialogar de forma produtiva, e o grau de êxito está ligado á qualidade do diálogo que se consegue estabelecer com os diversos atores do circuito.

Não é fácil ser artista, é uma condição permanente de se afirmar como artista, de defender seu trabalho perante o olhar severo dos "entendidos". Existe estresse nas transações conflitantes e incoerentes do meio. O sistema de arte é muito competitivo, os artistas querem brilhar mais do que os 300 outros artistas que estão a sua volta. Existe uma difícil equação para ser resolvida entre o bom senso e a ambição. Se houver muita ambição, faltará bom senso. Já o excesso de bom senso pode levar a uma situação de acomodação.

No mainstream da arte contemporânea os artistas são em geral bem adestrados nos relacionamentos: o mercado não tem muita paciência com deslizes de comportamento. Alguns chegam a atingir o mainstream, mas se tornam decadentes com o tempo e retornam a marginalidade. A decadência se revela nos chiliques, na ansiedade por vender, nas estratégias equivocadas de criação, no discurso do "artista oprimido", o artista que se julga a frente de seu tempo, ou incompreendido, na saliência constrangedora, no trato social. Uma coisa é ser um artista preciso, outra é ser maçante.

A liberdade do artista, se é que ela existe, está dentro de sua obra, e não no seu comportamento. Todo ser humano é condicionado pela ética e a cultura local. O artista-mala pode até ser bem reconhecido e brilhar, mas se não fosse mala brilharia ainda mais. Todo comportamento inadequado, seja em que meio for, terá um custo. Estive lendo que a sociopatia atinge 5% da população, o que corresponde aquela estimativa inicial de 5% de artistas complicados. O artista sociopata que não se cuida e não cuida do entorno vai pagar uma conta significativa no seu percurso. Seja interessante e torne interessante seus relacionamentos, pense no longo prazo, pense na sua aposentadoria.

Ricardo Ramalho

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