O mercado é a espinha dorsal do sistema de
arte, não se pode imaginar o atual circuito oficial sem o componente
comercial. Os museus, embora manifestem um certo afastamento, estão
intimamente ligados ao mercado, os curadores contam com os galeristas
como seus principais fornecedores de artistas, são raríssimas as
curadorias que privilegiam artistas sem galerias. Recentemente questionei no meu blog a qualidade da atuação das galerias nas feiras de arte, então é importante agora esclarecer a importância delas, porque as minhas observações anteriores podem ser interpretadas como uma posição de rejeição ao sistema instituído, e não podemos rejeitar aquilo que queremos dominar.
A relevância museológica dos artistas, que é um dos critérios
curatoriais, está intimamente ligada as suas representatividades em
coleções particulares (que refletem as demandas artísticas) e os respaldos da crítica especializada. É possível
que um artista seja considerado num museu, tendo como base apenas sua
aceitação pelos críticos, mesmo que sua atuação no mercado seja tímida,
mas isto é muito improvável ja que a produção de apreciações teóricas é
frequentemente encomendada pelas galerias, quando editam os catálogos e
folders de exposições. Por outro lado a entrada do artista no museu
valoriza ainda mais a sua obra e o assédio de galerias. Sim estamos
diante de um ciclo vicioso impenetrável.
As galerias, quando fazem um bom trabalho, promovem os seus artistas de
uma forma mais agressiva e sistemática do que os museus. Estes
tem que dar conta de um acervo vasto, enquanto a galeria é focada em seu
punhado de artistas, realizam individuais, imprimem material de
catalogação, fazem uma assessoria de imprensa mais precisa, distribuem
com mais agilidade, atualizam o preço das obras e fazem eventos
domésticos e internacionais com mais frequência do que os museus. Então o
artista que pretender se safar longe das galerias não tem muitas
escolhas, ou vive na pobreza ou adquire visão comercial ainda mais
agressiva e monta uma loja própria, como faz Romero Brito. O problema
é que ambas as alternativas conduzem o artista à marginalidade do circuito de arte, sendo a segunda mais
feliz do que a primeira.
Ricardo Ramalho
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