Wednesday, April 17, 2013

Consultoria para artistas: com alguma ambição

As pessoas tem uma visão romântica da arte como se o artista fosse um sacerdote sem nenhuma ambição financeira ou profissional. Não é assim. Arte é um mercado de trabalho muito competitivo e exige disciplina e procedimentos para um pleno reconhecimento.

Uma vez o artista José Resende participou de uma exposição com jovens artistas no Centro Cultural São Paulo. Sua instalação teve grande destaque na exposição. Durante a montagem tiveram de deslocar obras de outros artistas para abrirem espaço para sua obra. Num debate a noite ele foi criticado pelos artistas emergentes que tiveram de mudar suas peças de posição. Resende rebateu "falta ambição nos jovens artistas".

A ambição do artista é algo necessária, com ela poderá se projetar no meio, levar suas obras ao conhecimento de mais pessoas, dar conta da concorrência feroz, digerir os venenos, se valorizar, defender sua obra. O papel de valorização do artista está mais na mão dele do que na mão do galerista. Ao galerista, com frequência, pouco importa se um ou outro serão bem sucedidos, ele tem outros 30 artistas na manga. Embora também seja função da galeria valorizar os artistas quem deve ser o mais aplicado nisto é ele próprio.

Tenho recebido consultas e tenho prestado serviços de consultoria para diversos artistas e isto me deixa bastante contente, porque é uma atividade prazerosa dialogar com meus semelhantes. Apesar de ter experiência em museus, galerias, curadorias, e gestão, considero-me antes de tudo um artista.

O trabalho de consultoria para artistas é basicamente o estabelecimento de uma rotina de trabalho, um compromisso recíproco de dedicação a determinadas tarefas e objetivos num tempo determinado.

Os artistas tem 3 desafios comuns:
1) afinação dos conceitos de suas obras de arte
2) desenvolvimento de carreira
3) relacionamento com o mercado

Sem que todos os três desafios estejam estabilizados ele não avança com segurança:
- um artista forte no mercado, com conceitos claros de obra mas sem uma carreira, é um artista rico porém marginal no sistema. (exemplo clássico extremo, Romero Britto).
- um artista com conceitos, e com carreira de exposições, mas fora do mercado, é reconhecido, porém pobre (acho que a maioria dos artistas estão nesta situação).
- um artista que tem mercado, tem carreira, mas não tem muito conceito... é basicamente um sortudo... é uma situação praticamente impossível de sustentar por muito tempo, sua obra não vai repercutir longe.

Existe um quarto problema... também muito comum... quase constrangedor, falta de produtividade: o artista tem conceitos, tem carreira e tem acesso ao mercado, só não tem produção suficiente para um retorno significativo. Isto acontece quando o artista tem um ganha-pão distinto do fazer artístico, "sobra-lhe pouco tempo"... também acontece por falta de ambição! A solução para isto é simples. Contratar um assistente por 30 dias e criar com ele uma rotina de produção intensiva para produzir e entregar seus trabalhos. Ja fui assistente de muitos artistas. Este tipo de solução é ótima para exposições definidas, quando é preciso dar conta de muita coisa com um destino ja acertado. Ou quando queremos tirar um certo atraso de produtividade para mostrar produção. Vale lembrar que muitos artistas famosos tem assistentes contratados permanentes, para atender a demanda constante da agenda. Os artistas não tem patrão, mas precisam mostrar muito serviço.

Estou a sua disposição,

Um abraço!

Ricardo Ramalho
artistaramalho@gmail.com

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