Wednesday, April 3, 2013

Não é verdade que arte jovem tem risco maior para o investidor

No mercado de arte ja faz parte do senso comum acreditar que um artista consagrado é um investimento mais seguro do que artistas emergentes. Porém, diversos grandes nomes enfrentam uma notável decadência ou mesmo a plena marginalidade após uma fase de grande reconhecimento.
Manter-se na crista da onda não é tarefa fácil neste ramo, a área cultural não é vista como essencial, o telefone do artista não toca se ele não se mantiver bem posicionado e bem visível nas exposições, catálogos, artigos, textos críticos e rodas de tapinhas nas costas. A concorrência entre os artistas é feroz, existem muitas panelas e lobbies para serem administrados ou contornados. A quantidade de espaços para expor corretamente é pequena, e são raríssimas as galerias e museus que realmente fazem um trabalho de valorização dos seus próprios artistas. A linguagem da produção plástica precisa sempre encontrar diálogo no meio, e ser considerada pertinente, interessante, promissora. A manutenção da carreira é algo constante. Um artista emergente deve ser promissor, e mesmo depois de consagrado deve continuar promissor, deve dar a impressão de que sua obra terá uma valorização constante.

De fato um artista de renome, por ja ter uma carreira consolidada e bem catalogada tem maior liquidez, ja que a notoriedade do autor facilita sua identificação pelo comprador. Um jovem artista, embora ja tenha um bom currículo, e demonstre confiabilidade, muitas vezes é desconhecido, exigindo um maior esforço de venda ou re-venda. Entretanto isto não tem nada a ver com risco maior para o investidor. Acredita-se neste risco maior porque os artistas emergentes ainda não estão com as carreiras bem reconhecidas e fica difícil prever até onde eles vão conseguir chegar. Noutros casos ainda mais radicais, o jovem artista desiste de ser artista, abandona sua produção e vai fazer outras coisas. Este seria o pior pesadelo de um colecionador. Por outro lado o preço de artistas em fase de início de carreira é uma fração do que se cobra por um grande nome. Quanto maior a altura, maior a queda: um investidor também pode micar com artistas que ja foram valiosos e estão estagnados, ou mesmo desvalorizados. Pode ainda comprar a fase errada de alguém famoso, certas obras são apenas valiosas em determinadas fases.

Numa coleção de arte jovem, se um ou outro artista não deslanchar, o colecionador ainda tem um grande leque de peças em sua coleção para compensar a perda, especialmente porque o custo mais baixo de aquisição permite a compra de um conjunto muito maior de obras. Outro aspecto a ser considerado é que a valorização de artistas emergentes pode ser dez vezes maior do que nomes consagrados, num mesmo período de tempo.

Por que dizem que artista consagrado é um investimento mais seguro? Porque os marchands preferem lucrar mais por peça vendida, mesmo que atinjam poucos clientes, do que lucrar menos e aumentar faturamento alcançando mais clientes. Além disso suas equipes tem pouco suporte e raramente tem a capacidade de lançar e promover nomes, acompanhar as carreiras, atuando assim num nicho fechado e restrito de pessoas endinheiradas e pouco informadas sobre colecionismo. Claro que estes marchands acabam ficando reféns destes vícios, assim como muitos empreendedores são reféns de suas manias e limitações. Curadores caem neste mesmo jogo, preferem digerir o que ja foi digerido, eles também querem reconhecimento de um circuito de poder ja consolidado, evitam correr riscos com nomes novos e sem repercussão, querem adular jornalistas com nomes conhecidos. São raros os colecionadores, marchands e curadores de atuação garimpeira, que vão atrás do que ainda está para ser descoberto, em compensação são estes os que fazem toda a diferença no desenvolvimento da arte.

Ricardo Ramalho

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